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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ler e Pensar

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida. Baste!
É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima. Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio! ...

Álvaro de Campos


Poema lindo, de um poeta sensacional!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Belos momentos

Devido a uma série de loucuras que me aconteceram este fim de semana e á pouca vontade que tenho de estudar para a frequência que tenho amanhã decidi vir compartilhar a minha noite de sexta-feira.
Além de ter passado a noite literalmente a gozar com um amigo meu e a beber copos, o que me levou ao Bairro Alto na sexta-feira foi a actuação da Tusófona, tuna da minha faculdade da qual eu fiz parte durante um curto período de tempo, acabando depois por desistir por falta de tempo.
Ao vê-los actuar sempre com toda a sua boa disposição lembrei-me de algumas coisas que me tinham dito, lembro-me por exemplo de um "olha que vais-te arrepender!" ou um "tu é que sabes, mas ficas a perder!", a que na altura não dei importância nenhuma, mas que naquele preciso momento faziam todo o sentido e tive realmente muita pena de estar apenas a vê-los e não actuar com eles, mas a vida é feita de escolhas e eu optei por não continuar com eles, por isso, não me posso lamentar, visto que tive a minha oportunidade.
No geral, tirando este pequeno sentimento de arrependimento, foi uma noite realmente fantástica entre Doutores e Veteranos e tenho a certeza que depois disto vou "encher" bastante, mas pela noite que foi, acho que vale a pena!

Aos campeões...

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?
Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa


Não resisti em fazer este post em honra de um colega meu da faculdade, podia ter contado a história mas deixo para quem presenciou os promenores mais mesquinhos.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Fracassos

Embora saiba que a vida não é feita por um caminho bonito, de paz e de escolhas fáceis, também sei que é esta a vida que temos e cabe-nos a nós cuidar esse caminho contra todos os fracassos que a vida nos tráz.

"Cada fracasso ensina ao homem algo que ele precisa aprender." (Charles Dickens)

Não é que seja um grande conhecedor de Charles Dickens, bem pelo contrário, contudo esta frase chamou-me a atenção para todos os fracassos e problemas que já todos nós tivemos ao longo da nossa vida.
Com todos esses fracassos nós ficamos mais fortes, crescemos com eles aprendemos sempre algo que não sabíamos. Isto leva-me a crer que todos os fracassos têm um lado positivo, embora pareça um pouco antitético, cabe-nos a nós sabermos tirar proveito de tal eventualidade.
Talvez todos os fracassos que temos ao longo dos nossos dois dias de vida sejam apenas e só, para nos ensinar algo que precisamos de aprender para o futuro! Talvez todos estes fracassos sejam um estímulo à nossa capacidade de aprendizagem.
Sendo assim o que é um fracasso além de um bem precioso que vida nos dá? Se de todos os fracassos que temos ao longo da vida retirarmos uma pequena percentagem de ensinamento, com toda a certeza que ao chegar o dia do julgamento final, saíremos deste mundo bem mais sábios.
Se alguém um dia me perguntar se me sinto fracassado eu irei-lhe simplesmente responder que um fracassado é aquele que pensa que nunca fracassou e que por isso não tirou qualquer ensinamento dos seus fracassos, tendo isto em conta resta-me deixar um conselho, tentem não fracassar mas se por algum motivo algum dia fracassarem, aprendam tudo aquilo que conseguirem com o vosso fracasso, caso contrário vão sentir-se fracassados o resto das vossas vidas.